Uma reflexão sobre o que a IA consome — e por que vale a pena saber

O impacto ambiental da inteligência artificial é maior do que imagina, e está escondido por trás de cada resposta rápida que recebe

Por Isis Freitas

Rápido, limpo, brilhante. Mas por trás da resposta imediata existe uma infraestrutura pesada que ninguém vê. E ela consome muito mais do que apenas tempo de processamento.

Na prática, a sua questão vai parar num centro de dados — um armazém cheio de computadores ligados permanentemente, a processar milhares de tarefas por segundo. Para isso funcionar, é preciso gastar muita energia e muita água — usada, sobretudo, para arrefecer as máquinas. Quantidades suficientes para abastecer cidades inteiras, todos os dias. Tudo isto para gerar um parágrafo que parece ter saído leve da “nuvem”.

 Imagem criada por IA - Reprodução:  https://tecnologia.ig.com.br/colunas/jorge-muzy/2025-02-04/o-impacto-ambiental-oculto-da-inteligencia-artificial.html
Imagem criada por IA – Reprodução: https://tecnologia.ig.com.br/colunas/jorge-muzy/2025-02-04/o-impacto-ambiental-oculto-da-inteligencia-artificial.html

Cada prompt tem um custo real
Um único pedido pode consumir até dez vezes mais energia do que uma pesquisa no Google — e usar até meio copo de água apenas para arrefecer os servidores. Dez pedidos? Já é quase uma carga inteira de telemóvel e meio litro de água gasto. Agora multiplique isso por milhões de utilizadores, todos os dias, e percebe-se porque é que a inteligência artificial se tornou um problema ambiental silencioso — e crescente. Ainda mais agora que cada vez mais empresas funcionam com fluxos automatizados, chatbots, sistemas internos e produtos inteiros assentes em IA.

Nos próximos anos, este consumo vai disparar. Segundo a Agência Internacional de Energia, os centros de dados deverão gastar mais de 940 terawatts-hora por ano até 2030 — mais do que toda a indústria norte-americana de ferro, aço e cimento juntas. E o uso de água deverá duplicar: só em 2022, estes centros consumiram cerca de 560 mil milhões de litros, principalmente para arrefecimento.

Não se trata de cancelar a IA, mas de mudá-la
Também não é sobre “acabar” com a inteligência artificial. Já existem soluções — e funcionam. Alguns centros de dados usam arrefecimento direto nos chips, consumindo menos de um copo de água a cada 10 horas por servidor. Outros operam em circuito fechado, reaproveitando a mesma água indefinidamente. Há estruturas que captam água da chuva, usam energia solar ou redirecionam o calor gerado para aquecer edifícios vizinhos. Existem, ainda, arquiteturas mais eficientes, chips que consomem menos e novas formas de treinar modelos com impacto reduzido. Ou seja: tecnologia não falta. O que falta é prioridade.

O mito da IA “limpa”
A inteligência artificial não é limpa por padrão — apenas parece. A maioria das empresas que desenvolvem ou alojam estes modelos não divulga dados claros sobre o que consomem, nem sobre os impactos ambientais que geram. Entretanto, continuamos a usar IA como se fosse leve, automática, inevitável. Mas ela depende de recursos reais e finitos. Sem visibilidade, não há cobrança.

Sem cobrança, não há mudança

Se quisermos que esta tecnologia evolua de verdade, precisamos começar por reconhecer o que ela custa. Porque o impacto existe. A diferença é que, por enquanto, continua escondido.

NEWSLETTER

Inscreva-se na nossa newsletter e faça parte desse movimento que conecta ideias, histórias e transformações.

Receba conteúdos inspiradores, eventos, projetos e oportunidades diretamente no seu e-mail.

Artigos Relacionados

dezembro 22, 2025

Ressignificando o Natal: transforma a distância em aconchego

dezembro 21, 2025

Solstício: quando o sol desafia as trevas e acende a festa ancestral

Mais conteúdos

Faça parte da (r)evolução

Coming Soon