Ginger Caimi: a miúda de 13 anos que já faz tremer o World Longboard Tour

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Nasceu em Milão, com um ano de idade os pais mudaram-se para Fuerteventura e aos 12 já vencia competições de longboard contra mulheres com o dobro da idade. Esta é Ginger Caimi, a mais jovem atleta de sempre a qualificar-se para o Longboard Tour da WSL. Pressão? “Não sinto nenhuma. Elas é que devem sentir”, dispara

Do Duomo ao vulcão: a história que o mar escreveu

Filha de pai italiano e mãe chinesa, Ginger Caimi veio ao mundo em 2012 no coração de Milão, mas a cidade ficou somente na certidão de nascimento. Com apenas um ano de idade, a família fez as malas e trocou o frio lombardo pelas direitas perfeitas de Fuerteventura. O pai era (e é) um aficionado do surf que já tinha casa na ilha e não aguentava mais viver sem ondas todos os dias.

“Foi a melhor decisão: aqui é perfeito para crescer e surfar”, conta Ginger, que cresceu a falar italiano com o pai, mandarim com a mãe, espanhol na rua, inglês na escola e francês só porque sim. Cinco línguas aos 13 anos – um espelho da sua herança multicultural e do estilo de vida que escolheu abraçar.

O contacto com o mar foi imediato e fulminante. Aos 3 anos já ia deitada na prancha enquanto o pai remava; aos 5 começou a apanhar as próprias ondas sozinha; aos 7 estreou-se em competições locais; aos 10 percebeu que tinha um nível acima da média. Entrou na Qualifying Series da WSL e, quase sem dar por isso, viu-se no Longboard Tour mundial com apenas 12 anos.

“Nunca imaginei que entraria tão cedo. No começo era só uma brincadeira, um hobby que partilhava com o meu pai.”

Hoje, com 13 anos feitos, coleciona vitórias em etapas da WSL na América do Sul (Uruguai) e na Europa (Espanha, Portugal, Inglaterra), destacando-se também no mítico US Open of Surfing deste ano, na Califórnia, onde avançou várias rondas deixando pelo caminho veteranas como Malia Ilagan (EUA), Crystal Hulett (África do Sul) e Chloe Calmon (Brasil). Tudo isto competindo contra mulheres de 25, 30, 35 anos – muitas delas com o dobro da sua idade e metade da leveza.

Dançando sobre a prancha

Para Ginger, longboard não é desporto, é coreografia. Cross-steps fluidos, hang tens infinitos, nose rides que desafiam a gravidade. Tudo feito com uma naturalidade que tem deixado o mundo do surf de queixo caído.

“Quando estou na onda, muitas vezes ouço música na minha cabeça e danço na prancha. É super natural para mim. As pessoas dizem que é difícil fazer os movimentos que eu faço, mas eu só estou relaxada, feliz, curtindo o mar. Se não estiver feliz, não funciona.”

E a pressão de competir contra mulheres com o dobro da idade? Ri-se.“Eu não sinto pressão nenhuma. Acho que são elas que sentem. Ainda tenho muito tempo, sou super jovem, estou aqui apenas para praticar e aprender. Elas é que talvez sintam a pressão de terem de me superar, porque sou mais nova e menos experiente”, analisa.

Resultado: enquanto as adversárias suam frio antes da buzina, Ginger coloca os headphones, escolhe a playlist certa e desliza para o line-up como quem entra numa pista de dança só sua.

Vida de adolescente em modo turbo

O dia-a-dia dela parece normal até repararmos nos detalhes: acorda às 7h para a sessão da manhã, escola 100% online (perfeito para voar para o outro lado do mundo de um dia para o outro), alterna dias entre a casa da mãe e a casa do pai, anda de skate, patins, faz amigos na praia e, quando sobra tempo, recupera a matéria atrasada.

Parece uma adolescente qualquer… até ela ganhar mais uma etapa da WSL entre o teste de matemática e a aula de história.

O sonho é declarado sem rodeios: “Quero ganhar o World Longboard Tour. Acho que consigo.”

Fora d’água, quer terminar o secundário direitinho (“acho super importante estudar”), manter a família por perto, ajudar a Itália a subir no ranking mundial da ISA (International Surfing Association) e, claro, ver o longboard de volta aos Jogos Olímpicos.

Sobre o afastamento da modalidade das Olimpíadas de Los Angeles (2028), encolhe os ombros entre o compreensivo e o esperançoso.“Eu tenho tempo, não me preocupo tanto. As atletas de 25, 30 anos é que ficam mais tristes; têm de esperar mais 7 anos e o rendimento talvez já não seja o mesmo. Acho que o longboard precisa de mais alcance, que as pessoas assistam mais às provas. A modalidade está claramente a crescer – todos os dias vejo tantos longboarders no mar que não via antes – então eu acredito que vamos voltar nas próximas Olimpíadas”, afirma.

O talento que ainda viaja em classe económica

Por enquanto, o currículo viaja mais rápido que o orçamento. Ginger conta apenas com o apoio de uma loja italiana e com a ajuda (modesta) da Federação Italiana de Surf. Voos, hotéis, inscrições – tudo sai do bolso da família. É por esta razão que tem, neste momento, uma campanha de angariação de patrocínios a decorrer na sua página de Instagram, para fazer face às despesas da vida de atleta profissional.

“É muito caro viajar… Estou à procura de mais patrocínios e a tentar manter-me paciente. Acredito que vão aparecer.”

Marcas que estiverem a ler isto: o comboio já saiu da estação e ainda há lugares na primeira classe. Aos 13 anos, Ginger Caimi fala cinco línguas, inspira-se em Honolua Bloomfield (havaiana tri-campeã mundial de longboard), faz o Tour tremer só de aparecer na praia e encara o futuro como quem encara uma onda perfeita: com alegria, com tempo e com a certeza de que a melhor manobra ainda está por vir.

O longboard feminino nunca teve alguém tão pequeno com um futuro tão grande.

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