Por que estás sempre cansada, ansiosa, com a cabeça cheia e como isso tem a ver com o teu telemóvel?
Por Dani Branco


Tens sentido cansaço mental, sono picado, falta de memória, irritação sem motivo? Tens dificuldade em concentrar-te, mas continua a a abrir o telemóvel sem parar? Talvez o problema seja o quanto estás exposta aos ecrãs.
Na nossa cultura atual, normalizamos a hiperexposição digital como se fosse natural abrir os olhos e, antes mesmo de respirar fundo, já ver as mensagens acumuladas da madrugada. O dia começa no WhatsApp, termina no Instagram, passa pelo e-mail, Twitter, TikTok e volta para o grupo da família. Em nenhum momento, de facto, houve um intervalo. Um tempo vazio. Um espaço sem estímulo.
A mente não foi feita para funcionar em estado de alerta contínuo. Mas é isso que as notificações fazem connosco: acionam o nosso sistema de vigilância o tempo todo. Vivemos como se algo importante estivesse sempre prestes a acontecer. Como se parar fosse perigoso, no sentido de nos deixar desinformadas ou de fora de alguma coisa que nem sabemos dizer bem o que é. Como se desligar fosse sinónimo de perda. E não de presença.
Na psicanálise, compreendemos que a mente precisa de pausas para metabolizar os afetos. Os afetos não se processam na velocidade de um feed. É preciso digestão emocional. Silêncio. Tempo e espaço para integrar as emoções. Quando tudo é estímulo, nada é assimilado. E o resultado disso é uma sensação constante de saturação, sem saber exatamente porquê.


Nos últimos anos, aumentaram os quadros de insónia, ansiedade, despersonalização, esquecimentos e até sintomas psicossomáticos em mulheres de todas as idades que não param. Não param de percorrer o feed, de ver, de responder, de produzir. A hiperconexão não é só uma prática. É um novo regime de vida que não tolera o tédio, a ausência, o recolhimento. E sem esses estados, não há subjetividade possível. Não há integração do corpo com a mente, não há integração dos sentimentos e das sensações no corpo. Fica tudo confuso e um estado de embotamento.
O excesso de ecrãs rouba-nos de nós mesmas. Acordamos como se já estivéssemos em reunião. Dormimos como se tivéssemos perdido algo ou esquecendo alguma coisa.
Estamos em todos os lugares, menos dentro de nós. E é assim que nos vamos desconectando de quem somos até sobrar só o ruído.
Mas existe um ponto de virada. E ele começa pela pausa. Desconectando do externo para conectar com o interno.
Desligar não é ficar de fora. Não é abandono. Não é ficar desinformada. É cura. É restauração. É um gesto de cuidado psíquico. Criar limites com os ecrãs não é regressão. É transgressão em prol da saúde mental. Ao silenciar o mundo por alguns minutos, ou dias, quem sabe, talvez ouças de novo a própria voz. E isso, hoje, é revolucionário.

Dicas práticas para começar hoje
Pequenos gestos podem restaurar o teu corpo e a tua mente aos poucos. Não tem de ser radical. Tem de ser possível.
• Antes de dormir, desliga os ecrãs 30 minutos antes. Lê, escreve ou apenas fica em silêncio contigo mesma;
• Ao acordar, espera pelo menos 15 minutos antes de pegar no telemóvel. Respira. Alonga. Sente o corpo;
• Cria um espaço do dia sem ecrã. Pode ser o café da manhã, uma caminhada ou um banho mais longo;
• Desativa notificações de redes sociais e grupos que não são urgentes;
• Troca o scroll noturno por rituais de aterramento: passa aquele hidratante no corpo, escuta uma música calma, usa a luz baixa;
• Pergunta-te ao longo do dia: estou a entrar no telemóvel por escolha ou por automatismo?
• Se possível, tem um fim de semana sem redes sociais por mês;
• Marca encontros presenciais com quem amas. Uma conversa ao vivo vale mais que mil mensagens;
• Escreve. Dá descarga no excesso de pensamento. Uma página por dia, sem filtro.