Consumo consciente e sustentabilidade: como a moda e a alimentação estāo a moldar o futuro do planeta

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A crescente preocupação ambiental e social influencia hábitos de compra e impulsiona novas formas de produzir 

O consumo consciente deixou de ser uma tendência restrita a nichos e passou a ganhar espaço nas escolhas de milhões de pessoas em todo o mundo. Seja no guarda-roupa ou no prato, a preocupação com o impacto ambiental e social das decisões de compra tem orientado comportamentos e transformado indústrias inteiras.

Moda: a pressão sobre um dos sectores mais poluentes
A moda é responsável por cerca de 10% das emissões globais de dióxido de carbono e consome, anualmente, 93 mil milhões de metros cúbicos de água. O modelo da fast fashion, baseado numa produção acelerada e preços baixos, amplia o problema ao estimular o descarte precoce e a geração de resíduos. Na União Europeia, cada pessoa compra, em média, 19 quilos de roupa por ano e gera 16 quilos de lixo têxtil, dos quais apenas 15% são reciclados.

Em Portugal e noutros países, o desafio do desperdício têxtil é crescente. No Brasil, por exemplo, a estimativa é de quatro milhões de toneladas de resíduos têxteis descartados anualmente. No entanto, estão a surgir iniciativas que procuram inverter este cenário. É o caso de algumas marcas na Amazónia que têm apostado no reaproveitamento de tecidos e no uso de pigmentos naturais, mostrando que é possível aliar inovação, identidade cultural e sustentabilidade. 

Outro destaque vem do mercado de luxo, onde a durabilidade e o design intemporal ganham força. Um estudo da plataforma Farfetch revelou que 79% dos consumidores já incorporam práticas mais conscientes, como a compra de peças em segunda mão, cujas vendas cresceram 150% nos últimos anos.

Alimentação: desperdício e novos hábitos à mesa
A indústria alimentar também enfrenta desafios. Globalmente, cerca de 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados por ano — o equivalente a um terço de toda a produção mundial. No Brasil, o volume do desperdício chega a 26,3 milhões de toneladas, o suficiente para alimentar 13 milhões de pessoas que vivem em situação de carência alimentar.

Já em França, uma lei pioneira, aprovada em 2016, proibiu os supermercados de destruírem os alimentos que não fossem vendidos, obrigando-os a doar o excedente a organizações de caridade ou a transformá-los em ração animal e compostagem. Desde então, surgiram várias iniciativas que ampliaram o impacto desta legislação, como a Phenix, uma startup que conecta estabelecimentos a instituições sociais e consumidores, permitindo que alimentos próximos da validade sejam vendidos a preços reduzidos ou destinados a quem precisa.

Este tipo de medidas mostra que é possível aliar inovação, política pública e responsabilidade social para combater o desperdício e, ao mesmo tempo, apoiar comunidades vulneráveis.

Economia circular e novos caminhos
O avanço do consumo consciente também traz à tona a necessidade de repensar modelos produtivos. Apenas 1% da roupa produzida globalmente é reciclada, e a maioria acaba em aterros ou incineradoras. Na alimentação, grande parte das sobras poderia ser reaproveitada em cadeias circulares, reduzindo desperdícios e emissões. Estudos indicam que a adoção em larga escala da economia circular em sectores-chave poderia cortar até 39% das emissões globais registadas em 2019.

O papel do consumidor
Embora barreiras como o preço e o acesso ainda dificultem escolhas sustentáveis em países como Portugal e Brasil, cresce a perceção de que cada ato de consumo é também um ato político. Optar por roupa de maior durabilidade, reduzir o desperdício alimentar, dar preferência a produtores locais e valorizar iniciativas sustentáveis são decisões individuais que, somadas, têm um elevado potencial para transformar o mercado.

A transição para um futuro mais equilibrado depende de empresas, governos e consumidores. Mas uma certeza já se desenha: o consumo consciente não é apenas um ideal, é uma necessidade para garantir qualidade de vida para as próximas gerações.

O exemplo ibérico e o impacto global da Patagonia
Em Portugal e Espanha, surgem cada vez mais marcas que apostam na produção local, na transparência e em materiais de baixo impacto. Mas, a nível global, um nome tornou-se uma referência incontornável: Patagonia.

Fundada em 1973, na Califórnia, a Patagonia foi uma das primeiras empresas a assumir a sustentabilidade como missão central. Muito além da produção de roupa outdoor resistente e funcional, a marca construiu a sua reputação em torno do ativismo ambiental. 

Ainda nos anos de 1990, substituiu o algodão convencional pelo orgânico e tornou-se pioneira no uso de garrafas PET recicladas para produção de fibras para vestuário. Em 2002, a Patagonia foi uma das fundadoras do movimento “1% for the Planet” e passou a doar 1% das suas vendas para organizações ambientais em todo o mundo. Já em 2011, lançou a campanha “Don’t Buy This Jacket”, incentivando os consumidores a refletir antes de comprar e a prolongar a vida útil das peças que já possuíam — um gesto ousado num sector marcado pelo consumo rápido.

A marca investe fortemente na economia circular, promovendo programas de reparação gratuitos, doações de uma percentagem dos lucros para projetos ambientais e incentivos à reutilização. Em 2022, o fundador, Yvon Chouinard, deu um passo histórico ao transferir a propriedade da empresa para um fundo ambiental e para uma ONG, garantindo que todos os lucros futuros sejam destinados à proteção do planeta.

 Reprodução: @patagoniaeurope Instagram
Reprodução: @patagoniaeurope Instagram

Uma transformação que transcende fronteiras
A mensagem é clara: a moda já não pode ser pensada apenas como tendência ou estética. O sector tem um peso determinante nas emissões globais, no consumo de água e no volume de resíduos, e o consumidor assume, cada vez mais, um papel de protagonista nesta mudança.

O impacto da Patagonia demonstra que é possível conciliar negócio e compromisso ambiental. Mas outros exemplos provam que esta transformação também pode nascer em mercados menores, próximos das comunidades e atentos às matérias-primas locais.

No fim, o que os une é a convicção de que vestir-se bem não deve custar caro ao planeta.

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