A surfista algarvia que está a gravar o seu nome nas ondas do mundo
Há momentos em que o mar se torna espelho. Em Saquarema, no Rio de Janeiro, Yolanda Hopkins olhou para ele e viu refletida uma promessa antiga: a de ser a primeira mulher portuguesa a alcançar a elite mundial do surf, ao lado das 24 melhores surfistas do planeta. Aos 27 anos, a surfista algarvia garantiu, recentemente, o apuramento para o Championship Tour de 2026 — e, com isso, gravou o seu nome na história de um desporto que, durante décadas, parecia reservado a outros.
Com a força de quem conhece a persistência, Yolanda venceu a australiana Ellie Harrison nos quartos de final do Saquarema Pro, uma das provas decisivas das Challenger Series (CS) da Liga Mundial de Surf. Fê-lo com a mesma consistência que a tem acompanhado ao longo de anos de marés imprevisíveis — entre vitórias, pausas forçadas e perdas que a moldaram mais do que qualquer troféu.
“Demonstrei o que sou capaz e que pertenço ao Championship Tour (CT)”, disse numa entrevista à Agência Lusa, depois de um terceiro lugar em casa, na etapa Ericeira Pro. Era mais do que confiança. Era afirmação. Era o eco de uma jornada longa, feita de quedas, regressos e fé.
Caminho de desafios
O caminho até aqui não foi linear. Houve uma pandemia que congelou sonhos no meio do caminho. Houve a dor da perda do pai, que a abalou quando estava prestes a chegar ao topo. Houve dias em que parecia que o destino insistia em adiar o inevitável. Mas Yolanda manteve-se firme, como quem sabe que o tempo também é uma onda: vem, recua, e volta com força.
Hoje, o surf feminino português vive o seu momento mais vibrante. Yolanda Hopkins, Teresa Bonvalot e Francisca Veselko abrem caminho para uma nova geração que cresce sem pedir licença. “Estamos sempre a puxar umas pelas outras”, afirmou a surfista na mesma ocasião. Essa é talvez a maior revolução: a união no feminino, o reforço coletivo capaz de transformar ambição em legado. Teresa e Francisca podem ainda classificar-se também, o que seria algo realmente inédito na história do surf português (sim, leste bem!).
Em Yolanda Hopkins, o mar parece ter encontrado uma voz. E o país encontrou um símbolo. Porque o verdadeiro poder não está apenas em chegar primeiro — está em abrir espaço para que muitas mais possam vir a seguir. Aliás, esse foi também o papel de Patrícia Lopes, a 11 vezes campeã nacional, que há 30 anos também competiu no circuito mundial, mas num formato e numa competição totalmente distinta daquela que se vive actualmente. O surf feminino nacional está a vibrar em alta e a criar um movimento de empoderamento e sororidade que poderá definir novas regras e novas metas para a modalidade. Estamos a torcer por vocês, Yolanda, Teresa e Francisca!
*fotos tiradas das redes sociais da atleta