Nazaré: a temporada de uma das ondas mais temidas do mundo está de volta

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Quem são as mulheres que estão a dropar a “big Mamma”?

Com a chegada do outono, o mar de Nazaré volta a rugir. As ondulações gigantes que viajam pelo Atlântico começam a atingir o famoso Canhão da Nazaré, um dos pontos mais icónicos do surf de ondas grandes no mundo. É o início da temporada, durante a qual surfistas de elite se reúnem no litoral português para desafiar o impossível — e entre eles, cada vez mais mulheres estão a assumir o protagonismo.

O palco das ondas gigantes

Localizada na costa central de Portugal, a Nazaré é muito mais do que uma vila piscatória de postal. É o epicentro de um fenómeno natural raro: o encontro entre o Canhão Submarino da Nazaré – uma fenda geológica que canaliza a força do oceano, e a costa rasa da Praia do Norte. O resultado? Ondas que ultrapassam os 20 metros de altura, transformando o local num dos cenários mais desafiadores do planeta.

A cada temporada – que se estende de novembro a março – o mundo do surf coloca o foco na Nazaré. Mas, nos últimos anos, algo mais profundo está a acontecer — uma verdadeira revolução feminina nas ondas gigantes.

As mulheres que mudaram a história de Nazaré

Desde 2011, quando McNamara transformou a Nazaré em sinónimo de conquistas associadas ao universo masculino, a história começou a mudar — e foi Maya Gabeira quem reescreveu este capítulo. A sua trajetória é marcada por diversas superações: após um grave acidente no mesmo local, em 2013, ela não só recuperou fisicamente, como voltou mais determinada do que nunca. Em 2020, Maya quebrou o recorde mundial da maior onda já surfada por uma mulher, com uns impressionantes 22,4 metros, um feito que foi, depois de muito esforço, reconhecido pelo Guinness World Records. Já em 2024, ela sagrou-se campeã feminina da temporada, terminando a sua carreira em grande estilo e reafirmando o seu legado no surf de ondas gigantes.

Outra brasileira em destaque é Michelle de Bulhões. A sua habilidade de unir força física, técnica e equilíbrio emocional está a ganhar notoriedade no cenário internacional, e não é à toa, pois completou a maior onda feminina na temporada da Nazaré, em 2023. Michelle é conhecida pela forma calculada como encara cada onda — estudando as condições, ouvindo o oceano e lançando-se com confiança e controlo. Ela representa uma geração que entende o surf de ondas grandes não apenas como um desafio, mas como um diálogo com a natureza.

A francesa Justine Dupont é outra das referências nas ondas gigantes, seja pela sua força, técnica impecável e habilidade para enfrentar ondas de todos os tamanhos com grande consistência. Com múltiplos recordes e conquistas internacionais, Justine destacou-se este ano no Big Wave Challenge, realizado no dia 13 de setembro, na Califórnia. Considerado o Óscar do Surf de Ondas Gigantes, ela foi coroada Surfista do Ano – consolidando a sua posição como referência no surf feminino de ondas grandes e inspirando uma nova geração de atletas a desafiar limites.

Conhecida como a “Mulher das Ondas Grandes”, Joana Andrade é um símbolo de coragem e pioneirismo em Portugal – sendo a única portuguesa big rider. Surfista profissional e fundadora da Progress Surf School, na Ericeira, Joana transformou o seu fascínio pelas ondas numa missão de vida: inspirar outras mulheres a ultrapassarem os seus próprios limites. A sua história ficou marcada no documentário “Big vs Small” (2020), que mostra não apenas os desafios físicos de surfar a onda da Nazaré, mas também a força psicológica e emocional necessária para encarar o medo. Para ela, o mar é mais do que um cenário: é um espelho e um verdadeiro  mestre. “Cada onda é uma lição sobre quem eu sou e até onde posso ir”, costuma dizer.

Dupla de tow-in com Joana Andrade – primeira equipa formada exclusivamente por mulheres – a brasileira Michaela Fregonese é uma das figuras mais inspiradoras da nova geração de surfistas de ondas grandes. Com uma abordagem serena e técnica, ela combina resistência física e preparação mental num ambiente onde o erro não tem espaço. Assim como Justine Dupont, Micaela participou no Big Wave Challenge e conquistou os títulos de Onda do Ano e Maior Onda do Ano, um feito monumental para o surf brasileiro. Michaela tem-se destacado pela sua consistência nas sessões mais desafiantes e pela forma como transforma o medo em movimento — uma verdadeira lição sobre entrega e autoconhecimento.

Estas atletas transformaram a Nazaré num símbolo não apenas de coragem, mas de igualdade e conquistas.

O desafio além do mar

Surfar a Nazaré é enfrentar o imprevisível. Cada sessão exige preparação física intensa, controlo mental absoluto e trabalho em equipa. O resgate por jet ski é parte fundamental da segurança, assim como o trabalho do spotter — o profissional que, no alto do penhasco, monitoriza as condições do mar e orienta a dupla em tempo real, garantindo que surfista e piloto de jet ski estejam sempre em sincronia diante das ondas gigantes.

“Na Nazaré, não se conquista o mar. Aprende-se a respeitá-lo”, disse Maya Gabeira 

numa das suas entrevistas. É uma frase que resume bem o espírito do local: ali, cada descida é uma conversa com a força da natureza, e cada regresso à areia é uma vitória sobre o medo.

Mais do que um ponto no mapa do surf, a Nazaré é uma metáfora sobre confronto e transformação. As ondas que quebram ali refletem os movimentos internos de quem as encara: medo, coragem, entrega. Para as mulheres que desafiam aquelas águas, o surf é mais do que desporto — é um ato de presença, liberdade e afirmação.

As surfistas que hoje enfrentam o Canhão português estão a trilhar um caminho para que outras mulheres também se atirem ao mar sem medo — e com o mesmo respeito e paixão que movem esta comunidade global.

A temporada está só a começar! E tratando-se da Nazaré, as ondas prometem histórias que vão muito além do tamanho delas — a narrativa delas é sobre força, reinvenção e o poder de ocupar o próprio lugar no mundo. Bem-vindas à nova temporada da Nazaré — onde cada onda é um capítulo da coragem feminina em movimento.

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