Como líderes femininas estão a transformar governos com empatia, ética e visão de futuro
A ascensão de mulheres em cargos de liderança ao redor do mundo está a redesenhar os contornos da política global. De gabinetes ministeriais a palácios presidenciais, estas líderes mostram que governar pode — e deve — envolver escuta, empatia e compromisso com o coletivo. Ainda que representem uma minoria no cenário internacional, o seu impacto vai muito além dos números: ele reflete-se em sociedades mais humanas, inclusivas e resilientes.
No dia 6 de outubro de 2025, a UN Women organizou um debate no Conselho de Segurança da ONU sobre “Mulheres, Paz e Segurança”, onde a diretora executiva Sima Bahous afirmou que “quando mulheres lideram, a paz segue”, enfatizando a importância da liderança feminina em cenários de instabilidade. Essa afirmação não é apenas simbólica — é comprovada por evidências e histórias concretas.
Enquanto a presença feminina ainda é minoritária, os resultados já demonstram o enorme potencial transformador de como estas presenças no poder moldam sociedades mais justas e resilientes.



Gestão de Crises: empatia e estratégia em tempos difíceis
Nos últimos anos, o mundo testemunhou como líderes femininas souberam equilibrar decisões firmes com sensibilidade social diante de momentos críticos.
Durante a pandemia da COVID-19, a neozelandesa Jacinda Ardern tornou-se um símbolo global ao adotar uma abordagem humanizada — comunicando-se com clareza e empatia, enquanto implementava medidas rápidas e eficazes que salvaram milhares de vidas. A sua liderança não se limitou à técnica; ela construiu um vínculo emocional com a população, lembrando que confiança e cuidado também são instrumentos de governo.
Na Alemanha, Angela Merkel, com o seu estilo analítico e centrado em evidências, mostrou que racionalidade e serenidade são pilares da boa gestão. Num continente em pânico, Merkel traduziu dados complexos em decisões transparentes, fortalecendo o espírito de cooperação europeu e consolidando o seu legado de estabilidade.
Já em Taiwan, Tsai Ing-wen exemplificou a eficiência tecnológica ao serviço da saúde pública. A sua resposta rápida e digitalmente integrada à pandemia foi uma das mais bem-sucedidas do mundo, garantindo baixíssimas taxas de contaminação e mortalidade. Mais do que planos de contenção, ela cultivou confiança — um bem raro em tempos de crise global.
Estas histórias têm algo em comum: no meio do caos, a liderança feminina tende a unir razão e empatia, estratégia e humanidade. E é nessa combinação que mora a sua força transformadora.



Avanços Sociais: políticas que transformam vidas
Mulheres no poder não apenas enfrentam crises — elas transformam estruturas.
Países liderados ou fortemente influenciados por mulheres líderes frequentemente apresentam avançados indicadores sociais, fruto de políticas que priorizam bem-estar, equidade e educação, apresentando impactos concretos na formulação de políticas públicas mais inclusivas e humanas.
A liderança feminina é capaz de unir visão estratégica, empatia e compromisso social em momentos decisivos da história.
Dilma Rousseff, primeira mulher a ocupar a presidência do Brasil, ampliou o alcance de programas sociais como o “Luz para Todos”, a fim de alcançar comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas, e garantir acesso à eletricidade, além de sancionar a Lei do Feminicídio em 2015, marco histórico no combate à violência de gênero.
No Chile, Michelle Bachelet, também a primeira mulher a ocupar a presidência, liderou uma verdadeira revolução social ao priorizar educação, saúde e habitação, lançando um programa ambicioso de 50 medidas nos seus primeiros 100 dias de governo. Além disso, também liderou iniciativas voltadas para a cobertura universal de saúde, como a comissão da OPS/OMS, com o objetivo de garantir o acesso à saúde em toda a América até 2030.
Já na Europa, Sanna Marin – eleita primeira-ministra da Finlândia em 2019, aos 34 anos – destacou-se como símbolo de uma nova geração de líderes. A sua política de igualdade parental, que igualou licenças maternidade e paternidade, redefiniu o papel das mulheres e dos homens no mercado de trabalho e na família. Marin também impulsionou reformas que facilitaram o acesso à educação infantil, mostrando que desenvolvimento social começa com equidade.
Essas transformações refletem um padrão que vai além das fronteiras nacionais. Segundo o World Economic Forum e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), países liderados por mulheres apresentam maiores avanços em indicadores de equidade, saúde e educação, pilares de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.


Sustentabilidade e Futuro Verde
Quando o assunto é sustentabilidade, a presença feminina na liderança também marca a diferença. Governos liderados por mulheres frequentemente priorizam políticas ambientais robustas, promovendo a sustentabilidade e a conservação ecológica.
A ex-primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, foi pioneira ao direcionar, em 2014, o fundo soberano do país para investimentos em energia renovável, enquanto promovia políticas que fizeram da Noruega referência global em veículos elétricos. Já em 2020 fez outro grande feito, ao anunciar planos de proteção oceânica e economia sustentável.
No México, Claudia Sheinbaum entrou para a história como a primeira mulher presidente do país, eleita em 2024 e trazendo consigo uma trajetória de cientista e ativista ambiental. Engenheira com doutoramento em energia, Sheinbaum defende metas ousadas: alcançar 45% de energia renovável até 2030 e reduzir drasticamente as emissões de carbono, além de reforçar leis para proteger florestas e conservar a biodiversidade. O seu discurso une técnica e justiça social, e a sua liderança inaugura uma nova era para a América Latina, onde sustentabilidade e inclusão caminham juntas.


Teresa Ribera, ministra da Transição Ecológica da Espanha, liderou uma virada energética ao eliminar o “imposto solar” e encerrar gradualmente a exploração de carvão e energia nuclear, uma das reformas mais ambiciosas da Europa. Ela também defendeu medidas fiscais para enfrentar a crise energética e baniu a caça ao lobo, promovendo justiça ambiental.
Na Índia, Vaishali Nigam Sinha, cofundadora da ReNew Power e reconhecida pela Reuters em 2025 como uma das 12 mulheres pioneiras no combate às mudanças climáticas, mostra que o setor privado também pode ser palco de transformação. Reconhecida internacionalmente pela sua atuação na transição energética e na promoção da igualdade de género, ela tem inspirado uma geração de mulheres engenheiras e executivas a ocuparem espaço num dos setores mais estratégicos para o futuro do planeta.
A Universidade de Cambridge identificou que líderes mulheres são peças-chave em políticas de conservação ambiental e empoderamento comunitário. Ao promover a sustentabilidade, elas não apenas protegem ecossistemas mas também constroem pontes entre o meio ambiente e o bem-estar humano.


Ética, Governança e Transparência
Em tempos de desconfiança nas instituições, a presença de mulheres no poder tem-se mostrado um antídoto contra a corrupção. Pesquisas do FMI revelam que governos com maior representatividade feminina registam índices mais altos de transparência e governança ética, pois elas tendem a implementar políticas que aumentam a transparência, fortalecem as instituições democráticas e combatem práticas corruptas.
Nkosazana Dlamini-Zuma, presidente da Comissão da União Africana entre 2012 e 2017, trabalhou incansavelmente para fortalecer instituições democráticas e impulsionar a boa governança no continente.
Na Ucrânia, Daria Kaleniuk, à frente do Centro de Ação Anticorrupção, desempenhou um papel decisivo na criação de mecanismos públicos de prestação de contas. Mesmo em plena guerra, ela defende que “a ética é uma forma de resistência”.
Magdalena Andersson, primeira-ministra da Suécia, reforçou a confiança pública em tempos de polarização. Sob a sua liderança, o país continuou a ser reconhecido pela sua baixa taxa de corrupção e alta confiança pública nas instituições.
Por fim, no Ruanda, Marie Immaculée Ingabire, fundadora da Transparency International Ruanda, transformou a luta contra a corrupção num movimento de cidadania e dignidade.
Estas líderes mulheres têm em comum a convicção de que ética não é retórica, mas prática diária. E é isso que diferencia governos que apenas governam daqueles que inspiram.


O poder de liderar com propósito
De Ardern a Sheinbaum, de Merkel a Marin, a presença de mulheres na liderança está a redefinir o que significa governar. Elas provam que firmeza pode andar de mãos dadas com empatia, e que decisões éticas e sustentáveis não são utopias, são caminhos possíveis.
A liderança feminina não é apenas representatividade: é transformação estrutural. Ela traz à política um olhar que valoriza o humano, prioriza a paz e compromete-se com o futuro do planeta.
Enquanto o mundo procura novas formas de lidar com crises, desigualdade e mudanças climáticas, talvez a resposta já esteja aqui: na coragem, sensibilidade e visão das mulheres que lideram.
*foto de capa @feminegra.com