Desmistificando a mãe perfeita: aprendizagens, tropeções e descobertas da maternidade real
A forma como a maternidade é percebida evoluiu, mas a pressão por padrões inalcançáveis continua presente. Antigamente, a mãe ideal era vista como completamente dedicada aos filhos e ao lar; hoje, espera-se que ela seja multitarefas, equilibrando carreira, vida pessoal, cuidado emocional e, até, presença nas redes sociais. Essa sobrecarga cria um fantasma da perfeição que muitas mulheres carregam inconscientemente. A maternidade ganha sentido quando nos permitimos aprender com os falhanços e ajustamos as expectativas, pois ser mãe é mais sobre adaptação e presença do que sobre cumprimento de regras externas.
Foi a partir da desconstrução destas expectativas irreais que a pedagoga e educadora Thaís Lefcadito partilhou a sua experiência sobre a maternidade, tanto nas suas redes sociais como na Revista TPM. Thaís contou como a prática de ser mãe a fez desapegar do modelo de perfeição que tantas vezes nos é imposto. “Tive que voltar à essência de tudo o que já tinha estudado e vivido para entender que a maternidade (e, porque não, a vida) é mais sobre viver no gerúndio, ‘equilibrando’, do que achar que vai dar para alcançar o equilíbrio como algo estático e perfeito”, escreveu, destacando a necessidade de olhar para o quotidiano com flexibilidade e presença.
Segundo a pedagoga, a maternidade não se resume a manter uma fantasia de perfeição, mas envolve observar e compreender o que a criança expressa, identificar as suas necessidades e criar respostas que sejam possíveis naquele momento. “O exercício diário deixou de ser o de tentar controlar tudo e deu lugar à possibilidade de ajustar os meus planos, expectativas e ações com o que eu observo – e manter a serenidade quando o circo pega fogo, sabendo que nós somos o adulto da relação. A cada dia descubro algo novo sobre ser mãe, sobre ela e sobre mim”.
Em outro post, Thaís Lefcadito fala sobre como a maternidade é, provavelmente, um dos temas mais julgados nos dias atuais. As mães são constantemente questionadas sobre as suas escolhas: “Ainda amamenta?” “Já deixa ver ecrãs?” “Dorme com o bebé?” — e por aí fora. Perante tantas inseguranças, padrões repetidos e olhares críticos, Thaís reforça que a maternidade deve ser, acima de tudo, um espaço de acolhimento, amor e entrega — e, sobretudo, real, com todos os erros e acertos que fazem parte desse caminho.
Estas palavras reforçam algo que muitas mães sentem, mas nem sempre conseguem expressar: a maternidade é uma prática, uma aprendizagem constante, que não cabe em fórmulas prontas ou modelos de Instagram. Ela é feita de dias bons e menos bons, de gargalhadas e lágrimas, de acertos e tropeções. É, acima de tudo, uma experiência humana, em que a perfeição é um conceito ilusório e o equilíbrio é um exercício diário de adaptação e observação.
A pressão pelo ideal da mãe perfeita é reforçada por expectativas externas — família, sociedade, meios digitais — mas também por uma cobrança interna muitas vezes invisível. Thaís mostra que a solução está em desapegar destas cobranças, reconhecer a própria humanidade e aceitar que falhar faz parte do processo. É justamente nesse espaço de liberdade e aceitação que a maternidade revela a sua beleza real.
Como se permitir ser humana na maternidade
Checklist da mãe real: sinais de que te estás a cobrar em demasia
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Sentes culpa por não conseguires dar conta de tudo, o tempo todo.
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Comparas a tua maternidade com a de outras mães (especialmente nas redes sociais).
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Tens dificuldade em pedir ajuda ou em dividir responsabilidades.
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Sentes-te exausta, mas insistes em manter uma “aparência de controlo”.
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Pensas mais no que os outros vão achar do que no que realmente funciona para ti e para a tua família.
Três frases para te lembrares nos dias em que a perfeição pesa
1. “Errar não me faz menos mãe, faz-me mais humana.”
2. “Não preciso dar conta de tudo, só do que é essencial agora.”
3. “A minha maternidade é única, assim como o meu filho(a).”
Como acolher outras mães sem julgamento
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Evita perguntas que geram culpa (“Ainda amamenta?” / “Já dorme a noite toda?”).
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Escuta mais, opina menos: às vezes a mãe só precisa de espaço para desabafar.
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Valida o esforço: um simples “está a fazer o seu melhor” pode aliviar muito.
Lembra-te: cada mãe tem o seu próprio ritmo, desafios e escolhas.
A maternidade perfeita existe?
Sim, mas não como padrão ou cobrança. Ela existe onde podemos ter lugar, como seres humanos. A maternidade perfeita é aquela que nos permite aprender, ajustar, cair e levantar sem culpa; que valoriza a escuta e a observação; que reconhece que cada criança, cada mãe, cada família é única. A perfeição não está em não errar, mas em permitir-se ser real, vulnerável e humana. É nesse espaço que cabemos — e é nele que a maternidade se torna verdadeiramente perfeita.