Da defesa da Palestina aos projetos com a ONU e o surf, a ativista constrói pontes entre direitos humanos, meio-ambiente e pessoas
“O meu pai costuma dizer que eu preciso escolher uma minoria, porque estou sempre a lutar por todas. Mas a injustiça incomoda-me”, contou Carolina numa entrevista à CEO da Girls on Board, Veridiana Bressane, durante o Festival Inspira.
A jornada de Carolina começou cedo e de forma inusitada, usando o desporto como veículo de mudança. Aos 19 anos, fundou o My Destiny, um projeto que utilizava o surf como ferramenta de educação e impacto positivo, tirando crianças e jovens das ruas em comunidades costeiras, do Brasil à Indonésia, provando que a paixão pessoal pode alimentar o ativismo social.
“Para mim, o surf sempre foi mais do que um desporto. Era uma conexão com a natureza e o mar, um lugar para aprender sobre respeito, persistência e, até, criatividade”, relembra.
Eles por Elas
A atuação de Carolina Pereira ganhou escala global ao tornar-se uma storyteller e ativista da ONU. Foi a embaixadora e fundadora do movimento HeForShe Portugal da ONU Mulheres, dedicando-se à luta pela igualdade de género e pelos direitos da comunidade LGBTQ+.
Para Carolina, o feminismo podia ser exercido de diversas maneiras, mas acreditava que os homens também deveriam estar envolvidos nessa luta. “Arrisco-me a dizer que foi ‘o’ movimento de jovens para jovens, que começou numa roda de conversas e ganhou clubes em diversas universidades.”
Navegando atrás de mudanças
O auge desta colaboração com as Nações Unidas materializou-se no projeto Global Goals Boat (#GlobalGoalsBoat). Este barco não era apenas uma embarcação, mas sim uma plataforma flutuante para ativistas e líderes, criada para promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
As viagens eram concebidas para criar intercâmbios culturais, com foco em pilares como a ação climática e o combate à pobreza e, dada a sua liderança no HeForShe e o seu foco em Direitos Humanos, naturalmente se tornou um espaço de diálogo e capacitação para comunidades marginalizadas, incluindo a comunidade queer e outros agentes de mudança.
“Criar, capacitar e tentar influenciar”
Simultaneamente, o seu olhar voltava-se para o empoderamento feminino no sul global, ao co-dirigir o Sathyam Project, na Índia. Aqui, o foco era o investimento em educação para raparigas e mulheres, um caminho essencial para romper ciclos de pobreza nas suas comunidades.
“Fui-me apaixonando por aquela comunidade. Escolho os meus projetos assim, pelos valores, mas também pelas pessoas. Porque sei que é importante para alguém.” No fundo, em todas as suas frentes, Carolina procura uma coisa: reafirmar o seu papel como uma designer humana que capacita pessoas e comunidades a serem os próprios agentes da mudança.
Do storytelling à ação no terreno: Palestina
Hoje, a ativista canaliza a sua energia e know-how de contadora de histórias através da Don’t Skip Humanity, uma produtora independente que fundou. É neste contexto, no cruzamento entre cinema, jornalismo e ativismo, que Carolina tem dado voz à causa palestiniana.
“Não sei o que se passa com as pessoas que ficam em silêncio diante de tudo o que está a acontecer”, desabafou num vídeo no seu Instagram, “mas ainda é tempo; é melhor do que nunca”.
Um olhar para si
No meio de tantas lutas, Carolina confessa que gere o seu stress com pequenas pausas para refletir e agradecer. “Acho que devia cuidar mais da minha saúde mental, mas tento conectar-me com o ciclo da lua para pensar em coisas sobre as quais sou grata e no que desejo para as outras pessoas também.”
Num ecossistema saturado por informação, o trabalho de Carolina junta credibilidade de campo (ajuda direta) com narrativas transformadoras (filmes e campanhas), criando pontes entre cultura, cidadania, ambiente e direitos humanos.