A ciência explica porque ele nunca sai igual depois da euforia de um drop na pista de dança
Por Ana John aka. Ana Paula Caldas
Imagina uma multidão a pulsar sob luzes coloridas, DJs a comandar batidas hipnóticas e corpos a dançar como se o tempo não existisse. Para quem acha que uma noite num festival de música electrónica é apenas diversão, a ciência tem uma surpresa: cada batida, cada pausa dramática e cada gota de suor na pista também remodelam o teu cérebro e as tuas emoções.
Este processo de transformação neural, impulsionado por estímulos sensoriais e emocionais intensos, é conhecido como neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de se adaptar, criar novas ligações e reorganizar-se ao longo da vida. Estudos mostram que dançar, por si só, é um treino completo para a mente.
Quando seguimos coreografias ou simplesmente deixamos o corpo mover-se livremente ao som da música, activamos redes cerebrais responsáveis por imitar, planear e até prever movimentos. É quase como se o cérebro ensaiasse connosco, mesmo quando não sabemos o próximo passo.
Prepara-te para o drop
Um grupo de cientistas de Montreal provou que dançar activa o chamado “sistema de observação de acções”, uma rede de neurónios que nos ajuda a imitar, aprender e até antecipar os movimentos dos outros.
Quanto mais tempo de prática, maiores as mudanças — o cérebro adapta-se à repetição. E no universo da música electrónica, a coisa vai ainda mais longe. Investigadores da Universidade de Kent descobriram que aquela tensão que sentimos antes do “drop” — o momento em que a música explode após o suspense — coloca o cérebro em estado de alerta, a antecipar o que está por vir.
Cérebros sincronizados na pista
Essa expectativa gera tensão, que aumenta a actividade em áreas ligadas ao movimento e à emoção. Quando o som finalmente rebenta, surge o alívio, a euforia e uma descarga de prazer que faz toda a gente saltar em uníssono — sincronizando os cérebros de quem está na pista.
A dança, que já é um exercício de corpo e mente, ganha uma dimensão extra nestes contextos. Mexer o corpo no meio de uma multidão cria uma ligação social única. O cérebro liberta substâncias associadas à recompensa e ao prazer, como a dopamina, que nos faz querer repetir a experiência — e não é por acaso que quem vai a um festival, muitas vezes, quer outro logo a seguir.
Por isso, da próxima vez que estiveres na pista de um festival de música electrónica, aproveita cada build-up, cada drop e cada passo de dança. Mais do que uma noite inesquecível, estarás literalmente a moldar o teu cérebro para sentir — e viver — intensamente.