Como a Tony’s Chocolonely está a transformar o chocolate num negócio 100% justo

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Sabias que em cada pedaço de chocolate pode existir uma história de exploração infantil e trabalho forçado?

Quando a denúncia virou propósito

Entre 2003 e 2005, o jornalista holandês Teun van de Keuken investigava a indústria do chocolate e descobriu que grande parte do cacau era produzido com trabalho infantil e até escravo, principalmente em países da África Ocidental (como o Gana e a Costa do Marfim).
Chocado com o que descobriu, tentou chamar atenção para o problema, chegando a declarar-se um “criminoso do chocolate” e pedindo para ser processado por ter consumido chocolate produzido de forma não ética.
Assim, em 2005, Teun fundou a Tony’s Chocolonely, em Amsterdão, com o objetivo explícito de produzir chocolate 100% livre de escravidão moderna e de exploração infantil. Em pouco mais de 10 anos, a marca tornava-se a mais vendida do país.
O nome vem do apelido “Tony” (versão internacional de Teun) e “Chocolonely”, que reflete a sua luta solitária contra uma indústria inteira.

Um design que conta uma história

Logo nos primeiros anos, a marca trouxe um detalhe visual que se tornaria a sua assinatura: as barras de chocolate com pedaços desiguais.

Cada barra “imperfeita” é um lembrete de que o chocolate aparentemente perfeito do supermercado nem sempre é justo. É uma forma criativa de transformar prazer em consciência social, reforçando a missão da Tony’s de unir sabor e propósito.

O problema da exploração no setor do cacau

A indústria do cacau – essencial para a fabricação de chocolate – enfrenta sérios problemas relacionados com a exploração de trabalhadores, especialmente crianças. A maior parte do cacau mundial é cultivada na África Ocidental, particularmente na Costa do Marfim e no Gana, regiões onde a pobreza extrema e a falta de acesso à educação contribuem para a perpetuação do trabalho infantil e forçado. Além disso, mais de 30.000 pessoas adultas e crianças são vítimas de trabalho forçado nas plantações de cacau. Estas estatísticas refletem um sistema que mantém os agricultores em condições de máxima pobreza, perpetuando o ciclo de exploração.

Esta exploração na cadeia produtiva do cacau é resultado de uma combinação de fatores como precaridade social e económica, levando a que famílias que dependem da agricultura de subsistência vejam no trabalho infantil uma forma de complementar a renda; da falta de fiscalização eficaz, permitindo que práticas abusivas sejam mantidas sem punição; além da crescente procura da indústria do chocolate, aumentando a pressão por matéria-prima barata e, muitas vezes, obtida de forma ilegal.

Trabalhadores em plantações de cacau frequentemente enfrentam condições precárias, como acomodações insalubres, sem acesso a casas de banho ou água potável; salários que não alcançam metade do salário mínimo; e longas horas de trabalho, com uso de ferramentas inadequadas e exposição a produtos químicos sem proteção.

Condenações judiciais: Em 2021, a ONG International Rights Advocates moveu uma ação nos EUA contra grandes empresas do setor do chocolate — incluindo Nestlé, Mondelez, Mars, Barry Callebaut e Olam — por serem beneficiárias de um sistema de produção de cacau que envolve escravidão infantil, especialmente na Costa do Marfim.

Em 2023, a Cargill, no Brasil, foi condenada por comprar cacau de fazendas envolvidas com trabalho escravo e infantil na Bahia e no Pará, evidenciando que a exploração não se limita a África.

A exploração na produção de cacau é uma realidade alarmante que afeta milhões de crianças e adultos em todo o mundo. Para combater esta situação, é essencial apoiar empresas e iniciativas que promovam práticas éticas e sustentáveis, garantindo que o prazer de consumir chocolate não seja à custa da dignidade humana.

Este sistema baseia-se em 5 princípios de fornecimento justo:

1. Cacau 100% rastreável – todos os grãos podem ser rastreados, desde a fazenda até a barra de chocolate, permitindo identificar e corrigir casos de trabalho infantil e forçado, além de promover uma cadeia de fornecimento transparente.

2. Preço justo – pagamento de um valor acima do mínimo Fairtrade, garantindo uma renda digna para os agricultores.

3. Fortalecimento de cooperativas – apoio direto para que pequenos agricultores tenham mais voz e melhores condições.

4. Compromissos de longo prazo – contratos estáveis que oferecem segurança económica às famílias produtoras.

5. Apoio à melhoria da produtividade – capacitação e suporte técnico para aumentar a qualidade e a sustentabilidade.

Parcerias estratégicas: juntos por um chocolate justo

Um dos ativos diferenciadores da Tony’s Chocolonely é que a marca não trabalha sozinha. Para acelerar a transformação da indústria do cacau, a empresa criou parcerias estratégicas com empresas dispostas a adotar os mesmos princípios de fornecimento ético:

Estas parcerias reforçam que é possível combinar sabor, acessibilidade e responsabilidade social em produtos que chegam às prateleiras do mundo inteiro.

O impacto positivo

A marca tem alcançado resultados significativos na sua missão:

  • Redução do trabalho infantil: Em 2023, a Tony’s Chocolonely ajudou a retirar 1.718 crianças do trabalho infantil na cadeia de fornecimento de cacau.

  • Expansão do Tony’s Open Chain: A iniciativa já está presente em 1% das fazendas de cacau da África Ocidental, promovendo práticas agrícolas sustentáveis e combatendo a exploração.

As barras estão disponíveis em diversos pontos de venda. Em Portugal e no Brasil, por exemplo, podem ser encontradas online — permitindo que os consumidores façam parte desta mudança positiva.

A Tony’s Chocolonely é mais do que uma marca; é um movimento em direção a um setor do cacau mais justo e ético. Ao escolher os seus produtos, os consumidores podem contribuir para um futuro onde o chocolate é sinónimo de prazer sem exploração. Na próxima vez que escolheres um chocolate, lembra-te: cada pedaço faz a diferença — mesmo que eles não sejam todos iguais.

*fotos publicitárias reproduzidas pelas próprias marcas

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